https://www.bbc.com/portuguese/articles/c1r52193r4xo
Sem nenhum
disparo e sem nenhum agente ferido, o brasileiro Danilo Cavalcante, de 34 anos,
condenado à prisão perpétua nos Estados Unidos, foi finalmente capturado na
quarta-feira, encerrando uma megaoperação que envolveu diversas forças
policiais e durou duas semanas.
Cavalcante
foi encontrado graças à tecnologia de detecção de calor e chegou inicialmente a
resistir à prisão.
A polícia
soltou um cachorro chamado Yoda, um pastor-belga-malinois. O animal mordeu e
imobilizou o fugitivo até os policiais se aproximarem e algemarem o brasileiro.
Havia tensão
em relação ao desfecho porque os agentes estavam autorizados a usar força letal
se Cavalcante não se rendesse voluntariamente.
A polícia
havia informado que ele estava armado e era “extremamente perigoso”. Questionado
por que a força letal não foi usada, o tenente-coronel George Bivens, da
Polícia Estadual da Pensilvânia, disse a jornalistas em entrevista coletiva
nesta quarta-feira que “essa opção serve apenas para evitar a fuga de um
indivíduo muito perigoso.”
Segundo ele,
o uso do cão policial, chamado em inglês de K-9, foi primordial para que os
agentes não empregassem a força letal.
“Os K-9
desempenham um papel muito importante, não só para rastrear, mas também para,
tal como numa circunstância como esta, capturar alguém com segurança. É muito
melhor que possamos libertar um cão policial como este e fazê-los subjugar o
indivíduo do que usar força letal”, disse Bivens.
“Nossa
preferência é sempre utilizar outros meios. Os K-9 desempenham um papel muito
importante.”
Segundo
Bivens, o cão foi trazido pelo Serviço de Alfândegas e Proteção das Fronteiras
dos Estados Unidos (CBP, em inglês).
A equipe do
CBP libertou o cachorro enquanto outros policiais da Polícia Estadual da
Pensilvânia cercavam Cavalcante, disse Bivens na entrevista coletiva.
“O
cachorro o subjugou e os membros de ambas as equipes imediatamente avançaram.
Ele continuou a resistir, mas foi levado sob custódia à força. Ninguém ficou
ferido como resultado disso”, disse Bivens.
“Ele
sofreu um pequeno ferimento por mordida. Tínhamos pessoal médico no local e
eles analisaram isso”, acrescentou.
Os cães
policiais são treinados para deter um indivíduo, disse Bivens, para não causar
danos desnecessários.
O objetivo é
que os policiais dêem um comando ao cão, para que o cão possa recuar e os
agentes avancem para prender o indivíduo.
“Eles
não ficam apenas mordendo e soltando ou tentando causar ferimentos adicionais.
Eles simplesmente agarram e tentam manter a pessoa no lugar até que os
policiais possam chegar lá”, disse Bivens.
“É por
isso que eles nunca são soltos, você sabe, a uma grande distância ou sem
supervisão. Há policiais por perto que podem então se mover. O treinador pode
puxar o cão imediatamente para trás se eles lhe derem um comando, puxar o cão
para trás e então os oficiais [se moverem]”.
Letalidade
O desfecho
positivo do caso contrasta com as estatísticas de violência policial nos
Estados Unidos. A polícia
americana, assim como a brasileira, é considerada uma das mais violentas do
mundo.
Em 2022,
segundo dados compilados pelo jornal americano The Washington Post, agentes
mataram 1.176, o ano mais mortal já registado em termos de violência policial
desde 2013, desde que especialistas começaram a monitorizar as mortes em todo o
país.
Mas no
Brasil esse número é bem maior: 6.430, queda de 1% em relação a 2021, de acordo
com dados da 17ª edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Vale
lembrar, contudo, que a polícia brasileira é também uma das que mais sofre com
a violência. No ano passado, 173 perderam a vida.
Já na
Inglaterra e no País de Gales, a polícia matou apenas três pessoas no biênio
2022/2023. As polícias
brasileira e americana também têm outra semelhança: o perfil da vítima.
Em ambos os
países, negros têm quase três vezes mais chances de serem mortos pela polícia
do que brancos.